#WoW | Guilty Pleasure (prazer culpado)
Ou será um petit plaisir, como dizem os franceses?
(ENGLISH) (NEDERLANDS)
De repente, penso que há cerca de 15 anos, estava na moda nos Países Baixos falar sobre o nosso guilty pleasure, sobre aquilo de que gostamos com um ligeiro sentimento de culpa. Claro que essa noção também tinha chegado da parte dos Estados Unidos, através dos influenciadores nas redes sociais. É sempre bom para uma conversa hilariante entre amigos ou com estranhos em festas, na ausência de um tema comum, porque toda a gente tem um culpado em relação a tudo e a auto-ironia é um meio virtuoso de nos colocarmos em perspetiva, revelando os nossos prazeres escondidos.
Há muitas coisas de que não percebo nada. E esta é uma delas.
A #WoW é: guilty pleasure (prazer culpado)
Dicionário de IA CHATGPT (2023)
SIGNIFICADO & DEFINIÇÃO
Um guilty pleasure é uma atividade, preferência ou hábito que se considera ligeiramente embaraçoso.
Pode ser, por exemplo, um grupo musical que se ouve, um programa de televisão que se adora, um tipo de comida que se come ou uma atividade de que se gosta mas que não se partilha abertamente com os outros ou de que se tem vergonha.
O termo é frequentemente utilizado para se referir à cultura popular que não é considerada de “alta qualidade”, como os reality shows, as comédias românticas “foleiras” ou a música kitsch dos anos 1980 e 1990. As pessoas podem sentir-se culpadas por isso, porque sentem que estão a comprometer o seu gosto ou personalidade ao entregarem-se a esta atividade ou preferência.
Quando rebobino o filme depois de uma festa, de um jantar, de uma noite divertida, quando todas aquelas conversas ou a fala na sala, juntamente com a bebida e a hilaridade, voltam a surgir, surgem sempre algumas perguntas. Sobre mim próprio, sobre o porquê de ter dito ou não ter dito algo. Sobre o outro, sobre as motivações inconscientes ou conscientes. E sobre o porquê de nos rirmos tanto. Belas noites. Até que alguém começa a falar do seu guilty pleasure. Isso tem um efeito diferente em mim do que na maioria. Parece. O que me acontece é o seguinte: alguém narra e eu sinto o drama de alguém que vive com culpa. Porque se tivermos isso em pequena escala, como num “guilty pleasure”, também o temos em grande escala. Não se pode ter um sem o outro.
OK, lê isto e diz em voz alta:
“A Liesbeth! Para! De qualquer forma, nem sempre penso tão profundamente nas coisas. Trata-se apenas de uma canção que alguém gosta de ouvir. Afinal, não se enquadra no que se pretende e isso pode ser hilariante. De certeza que se comem chocolates de cereja enquanto se é professor de yoga!”
Vês, é aí que fico sem perceber nada. Porque é que alguém que ensina a consciencialização do corpo, da mente e das emoções não há-de comer chocolates de cereja? Explica-me lá isso? Quem é que tem expectativas? Quem é que tem tudo e todos catalogados? Estamos a viver no século XXI e nunca antes houve tantos caixas para tudo. De repente, até temos todo o tipo de pessoas.
Eu percebo bem como é que as coisas funcionam na vida e o que é o humor em geral e, no entanto, custa-me ouvir que alguém não pode simplesmente dizer: “Acho que é uma música bonita”. Ponto. Não, é tornada excitante com sorrisos furtivos, bochechas rosadas e olhos virados para baixo. É tão inteligente ser tão aberto sobre si próprio e o resultado é que todos se riem consigo. Melhor ainda, a maior parte deles compreende e vem para a mesa com o seu próprio prazer furtivo. O resultado é a união.
Talvez seja isso que leva as pessoas a exporem-se desta forma (mesmo em frente de estrangeiros): a revelação de uma união que está a desaparecer na nossa sociedade, apesar de ser essencial para uma existência digna.
Que eu saiba, não tenho nenhum “guilty pleasure” e não me sinto de todo culpado por isso. Nem sequer um bocadinho. Falei longamente sobre isso com os meus companheiros de casa. Fizeram uma lista de tudo, desde ver séries de detectives a comer carne (aparentemente, até esta última se enquadra nesta categoria).
Talvez seja o facto de os outros decidirem por nós se uma coisa se enquadra na categoria de “guilty pleasure”? Vou refletir sobre isso e, acreditem, depois de uma longa vida de trabalho árduo (incluindo em mim mesma), quase não sinto culpa pelos grandes acontecimentos, por isso também não há mais prazeres furtivos. Que bom. Para mim, pouco importa se os outros desaprovam ou aprovam o meu comportamento. O que importa para mim é trabalhar a união, talvez a amizade. Adoro isso e, se revelar os “guilty pleasures” ajuda nesse sentido, a paz mundial está mais perto.
A propósito, os franceses falam de um petit plaisir. Que bom que isso é! Sem culpa. Apenas: prazer.
#WoW significa Write on Wednesday (Escrever à quarta-feira). Todas as quartas-feiras no X/Twitter, @karinwinters ou Irene @verwondervrouw - participantes do #WoW - inventam uma palavra sobre a qual se pode escrever (blogging, vlogging ou plogging). Nada é obrigatório, tudo é permitido. Podem participar em qualquer altura, por isso sintam-se à vontade para participar.