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Uma vez encontrei um pequeno livro de bolso sobre yoga num mercado de livros. Tinha treze ou catorze anos e nunca tinha ouvido falar de yoga. O livro custava um florim. Eu podia pagar com a minha mesada. Por que é que o comprei, não faço ideia.
Quando cheguei a casa, comecei a ler e a ver imagens até que, passadas algumas semanas, conseguia pôr-me de cabeça para baixo como o meu pai. Sempre quis imitá-lo. O meu pai até conseguia andar sobre as mãos. Não só para atravessar a sala. Também o fazia no exterior. Como naquela altura em Istambul, onde vivíamos em família na década de 1950. Almoçámos com amigos dos meus pais numas férias na, ou melhor, debaixo da Ponte Galata. A ponte sobre o Corno de Ouro.
A Patrícia e eu éramos as únicas crianças do grupo. No final do almoço, os homens rivalizaram com os seus contos de fadas. Quando o meu pai - campeão dos contadores de fadas - disse que conseguia andar sobre as mãos, a aposta foi rapidamente feita. Ele atravessaria a ponte sobre as mãos em troca de uma garrafa de uísque. Achei a aposta muito excitante, porque mais de quatrocentos metros é um longo caminho. A ponte estava cheia de gente. Com os muitos pescadores, caminhantes, mendigos, famílias, crianças a brincar e o trânsito de carros e eléctricos. O meu pai pôs-se sobre as mãos e caminhou. Nós seguimo-lo com alegria. Todos se afastaram e muitos juntaram-se a nós. Era uma coluna colorida que caminhava a bater palmas. Os pescadores até se viram porque não querem perder este espetáculo. Ganhou a sua garrafa de uísque.
Dois anos depois de ter comprado o livrinho, este desapareceu no armário com a yoga. A minha vida seguiu o seu curso. Casei-me aos vinte e um anos, tive logo dois filhos e fiz o que sabia. Estava a imitar a minha mãe.
Até que um acidente de esqui me deixou incapaz de praticar desporto. Então lembrei-me do livro de yoga e do que lá tinha lido sobre a auto-cura e pus mãos à obra. Agora também comprava os verdadeiros livros de yoga. Mais tarde, no início da década de 1970, descobri um estúdio de yoga no bairro de Archipel, em Haia, e quando, depois de meses de treino, a lesão nos meus joelhos já era algo tolerável, fui pela primeira vez a uma verdadeira aula de yoga. Entrei num mundo completamente desconhecido para mim de devotos de Baghwan, incenso, curandeiros de aura, xamãs autodidactas, cantores de mantras e meditação. A minha professora de yoga, formada com Baghwan em Poona, na Índia, pediu-me para tomar conta das suas aulas após algum tempo e com alguma regularidade e aconselhou-me a frequentar um curso de formação. Assim, aos 32 anos, já tinha qualificações. E mais importante do que isso: sabia um pouco mais e apenas o suficiente para ter a minha própria prática de yoga.
No entanto, passados alguns anos, a lesão (em ambos os joelhos) voltou. Um médico previu-me um futuro numa cadeira de rodas, outro especialista disse para operar. Outro disse para nunca mais o fazer, pois nunca mais iria ficar bem. Já não podia subir escadas, andar de bicicleta e, pior do que tudo, não me era permitido praticar yoga ou dar aulas. E eu acreditei nisso.
No espaço de uma semana, estava a trabalhar normalmente num escritório. Entretanto, a lesão mantinha-me ocupado. Não podia ser verdade, pois não? Uma cadeira de rodas. De manhã cedo, quando toda a gente em casa ainda estava a dormir e entre os trabalhos, comecei a ficar sentado. Podem chamar-lhe meditação ou outra coisa qualquer. Em todo o caso, aproximava-me cada vez mais de mim próprio, dando-me uma melhor visão do meu funcionamento. Passaram-se oito anos de turbulência interior e, aos 40 anos, estava divorciada e os meus joelhos tinham curado.
Tenho a certeza de que já contei esta história antes. Então porque é que a estou a contar outra vez? Porque tinha perdido aquele primeiro livro nas inúmeras mudanças e voltei a encontrá-lo há algumas semanas no Leva para Ler (uma biblioteca pública e gratuita de livros em segunda mão que pode trazer e levar) aqui no mercado da aldeia. Peguei no folheto e reli-o com um sorriso.
Desde a cura dos meus joelhos (sem a intervenção dum médico com o bisturi na mão), tenho-me auto-curado. Quer se trate de uma constipação ou de uma dor no pescoço, tudo tem a sua própria história e eu ouço-a. É a coisa mais normal do mundo para mim e gostava que fosse assim para toda a gente. Para isso, não é preciso fazer yoga ou conseguir andar sobre as mãos. Só precisa de ser capaz de fazer três coisas:
acreditar que pode ser feito (acreditar primeiro e depois ver);
ser capaz de olhar em silêncio para si próprio;
entrar num diálogo respeitoso com as suas células.
É fácil!
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